Bento XVI: diante da crise, um novo modelo de desenvolvimento

Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,
queridos amigos:
Obrigado pela visita, que acontece no contexto de vossa reunião anual. Saúdo-vos com afeto e agradeço pelo que fazeis, com sincera generosidade, a serviço da Igreja. Saúdo e agradeço o conde Lorenzo Rossi di Montelera, vosso presidente, que traduziu com fina sensibilidade vossos sentimentos, expondo em grandes linhas a atividade da Fundação. Agradeço também aqueles que, em idiomas diferentes, quiseram testemunhar sua comum devoção. O encontro de hoje assume um significado e um valor particular à luz da situação que a humanidade toda vive neste momento. A crise financeira e econômica que atingiu os países industrializados, os emergentes e os que estão em vias de desenvolvimento demonstra que há que repensar alguns paradigmas econômico-financeiros dominantes nos últimos anos. Portanto, vossa fundação acertou ao discutir, neste congresso internacional celebrado ontem, o tema da busca dos valores e regras que deveriam orientar o mundo econômico para implementar um modelo de desenvolvimento mais atento às exigências da solidariedade e mais respeitoso da dignidade humana.

Alegra-me saber que examinastes, em particular, as interdependências entre instituições, empresas e mercado, partindo, de acordo com a encíclica Centesimus annus, de meu venerado predecessor João Paulo II, da reflexão segundo a qual a economia de mercado, entendida como “um sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no setor da economia” (n. 42), pode ser reconhecida como um caminho de progresso econômico e civil apenas se estiver orientada para o bem comum (cf. n. 43). Esta visão, no entanto, deve estar acompanhada também por outra reflexão, segundo a qual a liberdade no setor da economia deve ser enquadrada “num sólido contexto jurídico que a coloque ao serviço da liberdade humana integral”, uma liberdade responsável, cujo “centro seja ético e religioso” (n. 42). Oportunamente a encíclica mencionada afirma: “Tal como a pessoa se realiza plenamente na livre doação de si própria, assim a propriedade se justifica moralmente na criação, em moldes e tempos devidos, de ocasiões de trabalho e crescimento humano para todos” (n. 43).

Desejo que as pesquisas desenvolvidas em vosso trabalho, inspirando-se nos eternos princípios do Evangelho, elaborem uma visão da economia moderna respeitosa das necessidades e dos direitos dos frágeis. Como sabeis, em breve se publicará minha encíclica dedicada precisamente ao grande tema da economia e do trabalho: nela se destacarão quais são, para nós, cristãos, os objetivos a serem perseguidos e os valores a serem promovidos e defendidos incansavelmente para alcançar uma convivência humana realmente livre e solidária.

Constato também, como satisfação, tudo o que estais fazendo a favor do Pontifício Instituto para os Estudos Árabes e Islâmicos (PISAI), a cujas finalidades, compartilhadas por vós, atribuo um grande valor para o diálogo inter-religioso cada vez mais fecundo. Queridos amigos: obrigado mais uma vez por vossa visita; asseguro a cada um de vós uma recordação na oração, enquanto vos abençoo de coração.
[Traduzido por Zenit
© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]

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