Espaço litúrgico

“O Espaço litúrgico é a tela na qual a igreja viva pinta o seu auto-retrato, retrato que deveria ser ícone do Cristo Ressuscitado e vivo para o nosso mundo”.

Estivemos reunidos e unidos na Casa de Retiros São José nos dia 22 a 25 de setembro, onde refletimos sobre a Mistagogia do Espaço celebrativo. A Irmã Laide Sonda, nos orientou e nos fez percorrer a historia da liturgia da Igreja, onde contemplamos a beleza da arte sacra expressa em diversas edificações de templos sagrados, dedicados a celebração da liturgia.

Para cada época da história, a construção revela o pensamento e a mentalidade da época. Na verdade uma riqueza de artes sacras, onde o protagonista é a ação do Espírito Santo, que inspirou aos artistas as mais belas pinturas, esculturas e espaço litúrgico, para que, pudéssemos fazer uma experiência de Deus.

O leitor haverá de se perguntar: o que significa a palavra mistagogia? O significado está relacionado a iniciar nos mistérios (myéô, mystagogéô). Portanto, ao referirmos mistagogia do espaço celebrativo significa que ele é o lugar por excelência de conduzir os já iniciados (mystai) a viver plenamente os dons recebidos, o mistério de salvação. Sua meta é a comunhão com o Pai, em Jesus Cristo, na presença do Espírito Santo. Por isto é importante cuidar bem do espaço celebrativo. Em nossas igrejas, devemos ter o cuidado de deixar o espaço comunicar aos fiéis a presença amorosa, salvífica e redentora de Cristo. O espaço fala por si, é espaço sagrado, assim sendo é importante evitar o exagero na colocação de flores, plantas, jarrinhos e paninhos principalmente na mesa do altar. Na instrução geral ao missal romano encontramos a seguinte orientação: a ornamentação da igreja deve visar mais à nobre simplicidade do que à pompa. Na escolha dessa ornamentação, cuide-se da autenticidade dos materiais e procure-se assegurar a educação dos fiéis e a dignidade de todo o local sagrado (IGMR 292).

Vivemos hoje, a tentação de reformar as igrejas, capelas e lugares de culto. Destruí este templo e em três dias eu o reerguerei (Jo 2,19). O templo de Deus é o Corpo de Cristo, mas o corpo, na sua totalidade, constituído pela Igreja, Corpo Místico. Por isso, S. Paulo nos diz: nós somos o templo do Deus vivo (2Cor 6,16). Claramente a idéia de espaço litúrgico de muitas comunidades, “apesar das mais variadas concepções de espaço existentes na Modernidade, é amplamente determinada pelo espaço do século XIX, o espaço unitariamente direcionado”.

O que acontece em algumas Comunidades é que às vezes a equipe encarregada da reforma não leva em conta o serviço de profissionais na área de construção (engenheiros, arquitetos, paisagistas, artistas plásticos). A presença deles é importante para que, se busque uma “verdadeira qualidade artística, que alimentem a fé e a piedade e correspondam ao seu verdadeiro significado e ao fim a que se destinam. Na Sacramentum Caritatis, 35, o papa diz: Tenha-se presente que a finalidade da arquitetura sacra é oferecer à Igreja que celebra os mistérios da fé, especialmente a Eucaristia, o espaço mais idôneo para uma condigna realização da sua ação litúrgica; de fato, a natureza do templo cristão define-se precisamente pela ação litúrgica, a qual implica a reunião dos fiéis ( ecclesia), que são as pedras vivas do templo.

Lá no seminário encontrei engenheiros, arquitetos e paisagistas , homens e mulheres de fé que no exercício de sua missão batismal se colocam a serviço da Igreja. Com seus conhecimentos e técnicas desejam ajudar a pensar as edificações e reformas dentro do espírito da renovação da teologia do espaço celebrativo que encontramos no capitulo VII da sagrada constituição sacrosanctum concilium.

Portanto, na edificação ou reforma dos edifícios sagrados, que tem por finalidade conduzir os já iniciados no mistério da páscoa de Cristo, a presença dos profissionais e artistas podem nos ajudar: a transformar o espaço que temos em um espaço funcional que ajude a comunidade cristã a participar ativa e profundamente da ação litúrgica; a conservar as obras e tesouros artísticos e a adaptá-las a cultura da comunidade, e ao pintar o seu auto-retrato, este seja ícone do Cristo Ressuscitado e vivo para o nosso mundo. Daí que o espaço celebrativo bem ordenado e com harmonia interior, é o espaço que proporciona aos fiéis uma beleza serena que o conduza progressivamente ao coração do Pai Eterno.

0 comentários: