Dai a César o que é de César, mas a Deus o que é de Deus
(XXIX Domingo do Tempo Comum - 09/10/2008)
No Evangelho deste domingo, os fariseus tentam fazer com que Jesus se contradiga através de um plano bem articulado, definido pelo próprio Jesus como plano hipócrita. Temos que ter em mente que nem todos os fariseus do tempo de Jesus eram iguais, como também nós cristãos de hoje. De fato, o “verdadeiro” fariseu era aquele que vivia a própria fé com autenticidade, pela qual as práticas externas derivavam da observância da lei de Deus como fruto de uma vida plasmada pela escuta obediente da Palavra de Deus. O verdadeiro fariseu sabia ser acolhedor, misericordioso e certamente teria prestado socorro ao samaritano perseguido e caído pela estrada de Jerusalém a Jericó.
Mas os fariseus que encontramos no Evangelho de hoje são hipócritas. Chamam Jesus de “Mestre”, mas não o seguem. Pedem-lhe qual seja o caminho para conhecer a verdade, mas não o percorrem. Depois, perguntam acerca da verdade, mas querem aquela cômoda, a verdade subjetiva, aquela que pode ser dominada, manipulada a seu bel prazer. A visão parcial destes fariseus ligada ao culto, mas desligada da vida, e, portanto, não incidente na vida mesma, impossibilita-lhes compreender e conhecer a Verdade. Estes fariseus são da mesma raça daqueles que Jesus reprovou na parábola do bom samaritano como incapazes de amar o próximo, mesmo se sentindo iludidos de ser amados por Deus só porque observavam as leis cultuais. Estes fariseus são muito espertos. É a esperteza cruel de quem busca os próprios interesses: eliminar Jesus porque ele incomoda. Jesus não deve ser acolhido, pois atrapalha os planos deles. Então, armam de tudo para confundí-lo e prendê-lo com a célebre frase: “é lícito ou não pagar o imposto a César?”
Ironia do Evangelho. Estes fariseus elaboraram a cilada para eles mesmos. Na resposta, Jesus desmascara a mesquinharia da fé deles. Ora, o povo de Israel vivia sob o domínio dos romanos. Um sinal de domínio dos romanos sobre o povo era exatamente o excesso de impostos. E então? Deus quer ou não que se pague o imposto a César? Se Jesus tivesse respondido sim, teria ido contra o povo que era sobrecarregado pelas taxas, especialmente pelos hostis zelotas, mas teria como aliados os romanos, os fariseus e os sacerdotes judaicos que dos romanos gozavam de alguns privilégios (sempre interesseiros); se tivesse respondido não, poderia ser acusado como rebelde ao imperador e ser condenado. Dessa vez, os fariseus acham mesmo que Jesus está sem saída. Mas, Jesus não cai na armadilha deles, não se deixa determinar pela pergunta como ela foi formulada. Responde a ela, mas vai muito além. Com a sua resposta, Jesus evita tal cilada, recuperando integralmente os dados da realidade. Ele revela às pessoas a sua identidade. “De quem é a imagem sobre a moeda?” O denário era uma moeda romana com o qual eram pagas as taxas. E no tempo de Jesus, o denário de prata tinha a imagem do imperador Tibério Cesar. Então, que se devolva a César aquilo que é de César, isso não representa problema nenhum pra Jesus. Por outro lado, Jesus acrescenta: mas, devolva a Deus o que é de Deus. Com isso, Jesus quer fazer entender que a pergunta sobre o imposto não diz respeito diretamente a Deus e que neste âmbito César não está em concorrência com Deus.
Mas, que as disposições e exigências de César podem ser respeitadas desde que não contradigam a vontade de Deus. Isso significa que toda pessoa que vive numa civilização organizada com as próprias instituições políticas, sociais, econômicas, deve ser respeitada, sua dignidade de pessoa enquanto criada por Deus a sua imagem e semelhança. É no amor por cada pessoa humana que se dá a Deus aquilo que é de Deus e a César o que é de César. Não se pode separar fé, vida econômica, política e social. A pessoa cristã não pode estar dividida, de outro modo arrisca tornar-se como os fariseus hipócritas do Evangelho de hoje. Hoje sentimos falar tanto de liberdade religiosa, ou seja, que podemos ser cristãos e que podemos manifestar nossa fé abertamente e protegida pela lei. Mas, infelizmente, há também tantas pessoas no mundo impossibilitadas de praticar sua fé, como a China, onde, por exemplo, os cristãos são obrigados a abortar o segundo filho.
Que possamos cada vez mais devolver a Deus o que é dele, colocá-lo em primeiro lugar na nossa vida, e abrirmos o nosso coração à escuta acolhedora da sua Palavra que nos liberta e nos faz capazes de entender que somos profundamente amados por ele.
Fonte: Padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento
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