Beatificação de João Paulo II: sem acelerações

A causa de beatificação e canonização de João Paulo II prossegue de forma rigorosa, segundo o tradicional procedimento canônico, afirmou nesta segunda-feira seu postulador, Slawomir Oder. A declaração foi feita durante a apresentação do livro «João Paulo II, pároco de Roma», de Angelo Zema, publicado pela Lateran University Press e apresentado na Universidade Pontifícia Lateranense.


«Como se sabe – disse o sacerdote polonês –, em 2 de abril de 2007 começou o itinerário processual na Congregação para as Causas dos Santos. Neste momento, estamos na fase da elaboração completa da ‘Positio super virtutibus’. Esta fase processual abre espaço para eventuais ulteriores aprofundamentos.»

As etapas que se seguem em uma causa de beatificação são duas: a diocesana e a romana. A primeira visa à investigação que o bispo competente instrui para recolher todos os escritos do servo de Deus e todos os testemunhos e documentos relativos à sua vida, atividades e virtudes (teologais e cardeais), ou ao martírio.

A segunda etapa se desenvolve na Congregação das Causas dos Santos, onde as atas da investigação são consideradas em sua parte final e examinadas com um meticuloso trabalho científico para comprovar a heroicidade das virtudes, o martírio ou os supostos milagres.

Quando as atas do processo realizado pela diocese chegam a Roma, o postulador e seus colaboradores – sob a direção de um relator, que neste caso é o padre dominicano Daniel Ols – se encarregam de redigir a imprimir a «Positio», integrada pelos volumes com as provas testemunhais e documentais e todas as atas jurídicas, os estudos e os sumários.

A «Positio» será depois submetida ao exame de oito consultores teológicos, junto com o promotor geral da fé, cargo de Dom Sandro Corradini. O resultado do trabalho dos consultores passará à consideração, junto com a «Positio», dos cardeais e bispos eleitos pela Congregação das Causas dos Santos.

Uma vez superadas com voto favorável todas estas fases, o Papa poderá expressar seu juízo sobre a «Positio» e ordenar a promulgação do decreto sobre as virtudes em grau heróico de João Paulo II, proclamando-o «venerável».

Ainda que o reconhecimento de um milagre (que tenha acontecido post mortem, nunca em vida) possa aplainar o caminho para a beatificação – a práxis em uso desde 1975 derroga o previsto pelo Código de Direito Canônico de 1917 –, não pode, contudo, suprir uma eventual ausência de provas sobre a heroicidade das virtudes.

Com relação à aprovação de um milagre devido à intercessão de João Paulo II, no passado Oder indicou o caso da Irmã Marie Simon-Pierre, da Congregação das Irmãzinhas das Maternidades Católicas, que em 2 de junho de 2005, perto de Aix-en-Provence, foi inesperadamente curada da doença de Parkinson.

Em março passado, Oder entregou uma redação semi-definitiva da «Positio» de cerca de duas mil páginas.

«Em meu trabalho – disse nesta segunda-feira – tive sempre bem presentes as palavras que

ouvi pessoalmente do Papa Bento XVI, que muitas vezes demonstrou publicamente seu vivo interesse pela causa: ‘Trabalhai rápido mas bem, de modo irrepreensível’.»

«As palavras do pontífice se aplicam também a este momento processual e afetam todas as pessoas implicadas», acrescentou o postulador, que não se comprometeu em previsões sobre a possível data da beatificação.

«Este fato – prosseguiu –, por um lado me deixa muito sereno, porque sou consciente de que o trabalho realizado até agora foi levado a cabo em fidelidade às palavras do Papa; por outro, impõe-me uma confiada e paciente espera, para que a fase atual também se desenvolva com a serenidade e rigor próprios deste tipo de processo canônico.»

A causa de beatificação e canonização de João Paulo II teve a dispensa de Bento XVI dos cinco anos de espera após a morte, prescritos pelo direito canônico.

Por Mirko Testa

Fonte: Zenit

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