O carnaval e a posição oficial da Igreja

D. Estêvão Bettencourt, OSB nos conta sobre a origem dessa festividade:

"Comumente os autores explicam este nome a partir dos termos do latim tardio "carne vale", isto é, "adeus carne" ou "despedida da carne"; esta derivação indicaria que no Carnaval o consumo de carne era considerado lícito pela última vez antes dos dias de jejum quaresmal. - Outros estudiosos recorrem à expressão "carnem levare", suspender ou retirar a carne: o Papa São Gregório Magno teria dado ao último domingo antes da Quaresma, ou seja, ao domingo da Qüinquagésima, o título de "dominica ad carnes levandas"; a expressão haveria sido sucessivamente, carneval ou carnaval". - Um terceiro grupo de etimologistas apela para as origens pagãs do Carnaval: entre os gregos e romanos costumava-se exibir um préstito em forma de nave dedicada ao deus Dionísio ou Baco, préstito ao qual em latim se dava o nome de currus navalis: donde a forma Carnavale. Como se vê, não é muito clara a procedência do nome."1

Alguns dizem que o Carnaval foi uma festa instituída pela Igreja. Isto não é verdadeiro. Mais uma vez recorremos a D. Estêvão, que nos conta que quando o cristianismo começou a se difundir, os missionários já tinham que lidar com a realidade das festas de carnaval, de índole pagã. A princípio, não se lhe opuseram formalmente, mas "procuraram dar-lhe caráter novo, depurando-o de práticas que tinham sabor nitidamente supersticioso ou mitológico e enquadrando-o dentro da ideologia cristã; assim, como motivo de alegria pública, os pastores de almas indicavam por vezes algum mistério ou alguma solenidade do Cristianismo (o Natal, por exemplo, ou a Epifania do Senhor ou a Purificação de Maria, dita "festa da Candelária", em vez dos mitos pagãos celebrados a 25 de dezembro 6 de janeiro ou 2 de fevereiro). Por fim, as autoridades eclesiásticas conseguiram restringir a celebração oficial do Carnaval aos três dias que precedem a quarta-feira de cinzas (em nossos tempos alguns párocos bem intencionados promovem, dentro das normas cristãs, folguedos públicos nesse tríduo, a fim de evitar sejam os fiéis seduzidos por divertimento pouco dignos)."

A doutrina católica não é, em princípio, contra manifestações de júbilo, canto, dança. São práticas totalmente compatíveis com o evangelho. Como nos lembra D. Eurico dos Santos Veloso, Arcebispo de Juiz de Fora, em seu texto sobre o Carnaval, a alegria é um "dom maravilhoso de Deus que restaura nossas forças e nos lembra a dignidade de nossa criação e de nossa redenção."2

O problema é quando coisas moralmente neutras, como a arte, o canto, a música, a dança, são desvirtuados e transformados em práticas libertinas, como escreve, mais uma vez, D. Eurico Veloso:

"O canto, a dança, a arte, os folguedos fazem parte de nossa condição humana. Como atos neutros, podem se desviar do seu fim e é neste sentido que o Carnaval destrói a dignidade."3

Claro que com isso a Igreja não concorda. Mas o carnaval em si não é mau, e sim o que se faz do carnaval. Para exemplificar: pensemos em uma faca. Ela em si não é má, é útil, nos ajuda na preparação dos alimentos. Pode, no entanto, ser usada como arma. Pode ser usada para o mal. Por isso nos livraremos de todas as facas?

Claro que devemos continuar alertando os cristãos sobre os excessos do carnaval. A Igreja sempre nos exorta a viver santamente os dias do Carnaval, aliás com a temperança que devemos viver todos os demais dias.

Estes dias não nos deveriam afastar de Deus, com excessos, que deturpam nossa própria natureza e levam-nos àqueles extremos a que o mesmo Apóstolo Paulo se refere na sua Carta aos Romanos e que atraem a ira de Deus.(Cf Rm 1,1ss)2

Enfim, a Igreja não nos proíbe de festejar o Carnaval. O cristão é livre para escolher participar das atividades que quiser, sempre tendo em mente o conhecido ensinamento paulino que diz: "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém." (1Cor 6,12). Entretanto, em vista da falta de opções de lazer condignas com o evangelho, a Santa Madre Igreja tem promovido diversas atividades nessa época, como retiros, "rebanhões", etc.


Informação tirada de uma pergunta de um leitor da Veritatis Splendor

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