O Evangelho deste domingo nos mostra como Deus se faz presente na nossa vida também nas horas difíceis, nos momentos nos quais mais nos sentimos sozinhos e abandonados. Também indica como por meio da fé podemos descobrir e recuperar aqueles sentimentos de calma, paz, serenidade e segurança que só Jesus é capaz de nos conceder para superar todas as adversidades.
No domingo passado, vimos que a multiplicação dos pães foi um fato extraordinário na vida dos discípulos e da multidão. Esta empolgada e cansada da corrupção e opressão dos chefes políticos da época, já começa a sonhar com Jesus como um líder político que livraria o povo de tudo isso. Por isso, é que Jesus obriga os discípulos a se afastarem imediatamente. Ele não quer colocar em risco a correta compreensão da sua missão. Ele sabe que os discípulos têm uma facilidade enorme para deixar-se levar pelo entusiasmo do povo. O seu reino não é de cunho político, mas espiritual.
Assim, depois de se despedir da multidão e mandar os discípulos atravessarem o lago, Jesus subiu ao monte para orar a sós e aí ficou até as três horas da manhã. A esta altura, a barca dos discípulos já estava longe e era agitada pelas ondas, por causa do vento que soprava em direção contrária. A barca sem Jesus estava corria grande perigo.
Mesmo não nos encontrando numa barca, nem atravessando um lago, freqüentemente, nos encontramos numa situação semelhante àquela dos discípulos. Também nossa barca é agitada por mil preocupações, angústias, provações, vivemos cercados pelas ondas de instabilidade em todos os campos: econômico, afetivo, político, social, atmosférico; tudo ao nosso redor sopra como um vento contrário. Usamos todas as nossas forças e fatigamos para chegar à terra firme, mas não conseguimos avançar, continuamos parados diante das mesmas dificuldades. É como se estivéssemos completamente sozinhos, sem a ajuda de ninguém.
Sem dúvida, o próprio fato de Jesus ter mandado os discípulos sozinhos na barca mostrava que eles deviam se acostumar ao fato de que ele nem sempre estaria presente de maneira visível; mas, mesmo não estando presente visivelmente, ele estava com eles. Quando sentimos que estamos em perigo, confusos, encurralados... Jesus vem ao nosso encontro, mas de um modo diverso como esperamos, pode até parecer que não seja ele, pode parecer uma ilusão (os discípulos pensavam que fosse um fantasma), existe sempre o medo de ter uma nova desilusão. Mas Jesus vem ao nosso encontro exatamente nesta situação de perigo, de sofrimento, ele caminha conosco sobre as águas agitadas, sobre as nossas contradições, sobre os nossos pecados. Podemos afundar nos nossos pecados, como se afunda nas águas, mas podemos também ir mais adiante, confiar no Senhor que nos estende a mão. É um desafio que Jesus nos lança: superar o recuo que fazemos quando temos medo para nos lançarmos numa experiência que nos supera, que supera o nosso pecado, a nossa fragilidade.
Quem nunca teve a experiência de aprender a nadar? No início, o medo nos leva a afundar, só quando nos abandonamos com confiança, é que começamos a boiar. Eis, pois, o convite de Jesus: “Coragem! Sou eu, não tenhais medo!”. É ele que nos sustenta, nós devemos ter a coragem de confiar nele para a situação na qual estamos vivendo por mais instável que ela seja. De fato, a presença de Jesus afasta todo tipo de medo. O medo se vence com a fé. Os discípulos têm todos os motivos para ter coragem, esperança e confiança. Quando Jesus diz: “sou eu!”, ele assegura que não é um fantasma, mas aquele que eles conhecem e que onde ele está, aí há segurança e vida e não há lugar para medo e perigo.
Pedro está disposto a se arriscar caminhando sobre aquelas ondas agitadas em meio ao vento impetuoso. Ele acredita na Palavra de Jesus que diz: “Vem!”. Mas quando sente o vento, se distrai de Jesus, concentrando-se no vento. Assim, o medo de novo prevalece sobre ele e ele começa a afundar, e, com muito medo, grita: “Senhor, me salve”. Imediatamente, Jesus estende a mão. E diz: “homem de pouca fé, porque duvidaste?” Em Pedro se manifesta aquilo que nos coloca em perigo e aquilo que nos faz superar o perigo. Tudo depende de para onde fixamos a nossa atenção, do que domina nosso coração.
Podemos ter o olhar voltado para Jesus e ter confiança nele e na sua palavra, ou podemos estar dominados pela ameaça e o medo diante do perigo. Quando mais nos deixamos dominar pelo medo, afundamos nele. Quanto mais fixamos o olhar em Jesus, mais cheios de tranqüilidade e confiança seremos. Se nós olharmos somente pra ele e tivermos a coragem de pegar na mão que ele estende, teremos um sustento seguro e venceremos todo e qualquer desafio.
Fonte: Padre Carlos Henrique
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